O esporte na infância e adolescência é considerado de extrema importância no desenvolvimento podendo auxiliar de várias formas, desde a motricidade, sociabilidade, capacidade de lidar com frustrações, facilitando, consequentemente, os relacionamentos interpessoais.
O desejo pelo esporte, em muitas crianças e adolescentes, é oriundo do contexto familiar, de identificação e admiração por pessoas importantes na trajetória pessoal e/ou, em algumas situações, também pode ser proveniente da singularidade dos mesmos. Geralmente, os pais tendem a projetar nos filhos expectativas que correspondem aos seus projetos pessoais, porém é fundamental que possam ser consideradas as características de cada filho. Projetar desejos pessoais nos filhos pode ser muito saudável, na medida em que possibilita uma maior proximidade entre pais e filhos em que estes podem conhecer as habilidades dos seus pais e os mesmos transmitirem seus conhecimentos. Porém, quando os pais acreditam que depende apenas deles o desenvolvimento de seu filho e depositam expectativas além da capacidade destes, iremos nos deparar com dificuldades em relação à autoestima.
A autoestima é a forma geral de como a pessoa se avalia, se gosta e se tem boa aceitação de si mesma. Tem como base as vivências da infância e seu ambiente e as características da personalidade. A base para se ter uma boa autoestima é a disponibilidade da família, principalmente dos pais, em atender os filhos de forma que estes sejam valorizados, respeitados e incentivados a crescer. Seu funcionamento é como uma mola que impulsiona o sujeito para o sucesso, podendo levá-lo ao fracasso quando não é desenvolvida de forma positiva.
A autoestima baixa não significa que a pessoa não tenha qualidades, mas que ela não reconhece e não identifica seus valores, podendo com isto reduzir as chances de êxito na sua vida, desde um campeonato, rendimento escolar e relacionamentos. A baixa autoestima pode inibir a pró-atividade que é fundamental para a prática esportiva. Poderíamos nos perguntar: de que forma os pais conseguem auxiliar na melhora da autoestima?
É importante que tenham cuidado em não manter as atenções somente para as deficiências e falhas dos filhos. As críticas podem demonstrar que as atitudes não estão corretas, desde que estejam relacionadas aos atos e não a pessoa. Quando um tenista tem um comportamento inadequado no jogo de tênis, a melhor atitude que um pai pode adotar é falar sobre a situação sem atribuir adjetivos pejorativos e com caráter de desqualificação.
A frustração faz parte do aprendizado possibilitando aprender com as experiências e que estas sirvam como ensinamentos para situações posteriores. É como se nós pudéssemos dizer que o nadador não pode saber a “temperatura da água” sem antes mergulhar. O mesmo ocorre com o tenista, quando entra em uma partida de tênis, ele só saberá as suas reações emocionais durante e após o jogo. Todas as reações fazem parte da vivência e do crescimento emocional; tanto pais como filhos terão que “administrar” estas reações e tolerar as suas angústias frente ao desconhecido.
Cabe salientar que limites também são fundamentais, desde que sejam claros e educativos, podendo auxiliar na capacidade de tolerar e conviver com as frustrações inerentes ao desenvolvimento. Lidar com vitórias e derrotas faz parte da atividade esportiva, porém sem a disponibilidade e habilidade dos pais em atender os filhos de forma que estes sejam valorizados, respeitados e incentivados a crescer, teremos, provavelmente, uma criança/adolescente com problemas na sua autoestima.
Andrea Kotzian Pereira – CRP 07/04000 – Psicóloga Mestre em Psicologia Clínica (PUCRS), Especialista em Psicoterapia da Infância e da Adolescência.
Jaqueline Almaleh Kompinsky – CRP 07/04001 – Psicóloga e Psicanalista, Especialista em Infância e Adolescência e Formação Psicanalítica, Membro associado da CBT (Confederação Brasileira de Tênis) e da ITF (International Tennis Federation).