O esporte perdeu um dos seus maiores incentivadores. O empresário Juliano Tavares viajou hoje, 2 de junho de 2021, para o espaço superior, aos 78 anos.
Natural de São Paulo, Juliano trabalhava no mercado financeiro, quando foi convidado a fazer parte da diretoria da Koch Tavares, empresa recém-formada por seu irmão Luiz Felipe Tavares e Thomaz Koch, ambos tenistas, na década de 1970.
Dotado de energia e idéias incríveis, Juliano esteve nos maiores empreendimentos do tênis no Brasil.
A empresa começou a ver no tênis um grande negócio depois de realizar alguns jogos-exibição no Ginásio do Ibirapuera, com Jimmy Connors (EUA), Bjorn Borg (SUE), Victor Pecci (PAR), Guillermo Villas (ARG), todos estrelas do tênis internacional. O Ibirapuera lotou porque o tênis era uma grande novidade que estava sendo apresentada à população.
Buscando impulsionar o desenvolvimento do esporte, alguns circuitos foram criados. No setor profissional, a Copa Itaú para os homens, em 1975, e para as mulheres a Copa Santista, em 1978. Inicialmente apenas para brasileiros, essas competições foram internacionalizadas e passaram a receber tenistas de diversos países de todo o mundo.
Pensando no desenvolvimento do esporte surgiu o Circuito Sul-america e Copa Hering, destinado a jovens infanto-juvenis, em diversas categorias, com ranking próprio e aval da Confederação Brasileira de Tênis, realizado em todo o país. Depois, separou-se do irmão e criou a JSTavares e Tawaric Promoções.
Juliano era um idealista. Participou ativamente de eventos que abria ao público, sem cobrança de ingresso. “É o único caminho para popularizar o esporte”, dizia.
Surgiram assim eventos internacionais, não só em clubes, mas em locais públicos como Parque Ibirapuera, Parque Vila Lobos, Praia de Copacabana, Esplanada dos Ministérios em Brasília, Copas Davis, e Club Mediterranée, em Itaparica, na Bahia, este apenas para público convidado.
E lutava por suas ideias tidas como impossíveis. Na reunião de diretoria em que falou que iria fazer tênis na Esplanada dos Ministérios, em Brasília, os diretores objetaram. Lá nunca foi feito evento, é área de segurança. Juliano não se deu por vencido: “…e vamos fazer cascatas de fogos de artifício nos prédios dos ministérios”. Alguns diretores julgaram impossível, mas Juliano ficou em pé na reunião, ergueu o braço e sentenciou: “…e cascatas de fogos também no prédio do congresso!”.
E assim foi feito. Todas as luzes da Esplanada foram apagadas e a área ficou Iluminada, ao som da Sinfonia de Bethoven. Carros congestionaram as avenidas para ver o espetáculo. Todos que estavam ali choraram de emoção.
E para completar, no estádio central, uma apresentação da Orquestra Sinfônica de Brasília. Lotou de público. E canhões espoucaram festejando a grande festa.
No Club Med, em Itaparica, recebeu o recém-empossado presidente Collor sem camisa, só de bermuda e chinelos. Deu um beijo no rosto no presidente e disse… “Eu te amo…”.
Os eventos tinham amplo espaço para o público, para convidados e para a imprensa. Eram estádios gigantescos e com completa infraestrutura de bar, transporte e hotéis cinco estrelas.
Invariavelmente compareciam as principais autoridades como os governadores Mário Covas, Geraldo Alckmin, prefeita Martha Suplicy, de São Paulo, Rosane Collor presidente da LBV, senador Paulo Octávio entre outros. Parte da receita dos patrocinadores destinava a obras sociais.
Era assim, humilde, sem cerimônias, mas gostava que seus eventos fossem pomposos, de altíssima qualidade e todos ficassem felizes e satisfeitos.
Quando sentia que um era projeto inteligente aprovava na hora. Assim, apoiou a proposta de levar jornalistas para todos os eventos de tênis, com passagens, transporte e hospedagem, até para os torneios infanto-juvenis. Eram jornalistas desde o Amazonas até o Rio Grande do Sul. Em determinado evento chegaram a comparecer 37 jornalistas…
Ele queria que todos os eventos tivessem repercussão nacional.
Jogos eram transmitidos internacionalmente pela TV. No Brasil Armando Nogueira, da Globo, Ruy Viotti, Luciano do Valle, Álvaro José, da Bandeirantes, José Góes, da TV Cultura, estavam sempre presentes, assim como artistas, misses…
O Brasil se tornou o segundo país do mundo a realizar eventos internacionais de tênis.
Mas Juliano pensava no social. Nas quadras que construiu no Parque Villa-Lobos criou há 16 anos o Projeto Bola
Dentro para crianças carentes, com a sócia Simone Maricir, e com ensinamentos do professor Agostinho Carvalho. Hoje o Bola Dentro tem uma segunda arena, em Carapicuíba, onde atende outro núcleo de crianças.
Muitos garotos que começaram ali tornaram-se árbitros internacionais e hoje trabalham para a ITF – International Tennis Federation e ATP – Associação dos Tenistas Profissionais.
Sem dúvida, Juliano Tavares está na história como o maior idealizador de projetos audaciosos e bem sucedidos
do tênis brasileiro.
Sua equipe sempre foi fiel. Márcia Lusia, Marta Queiroz, Simone Maricir e Agostinho Carvalho, o acompanharam até hoje, em todos os momentos.
Durante 46 anos como diretor de Comunicação de suas empresas, convivi com esse gênio de tantas idéias luminosas.
Estou triste sim, já com saudades da linda história que construiu aqui na Terra. Estive com ele num hotel há três meses. De cama, não andava, mas pensava longe. Tinha projetos mirabolantes para reviver o Aberto da República em 2022. “Vamos fazer o maior evento da Esplanada. Um torneio masculino e outro feminino. De frente para as quadras três espaços nobres. No centro, a área dos convidados. Ao lado, à direita, a área da WTA – Women´s Tennis Association. À esquerda, a área da ATP – Association of Tennis Professional… Vamos ter jogadores internacionais. Celebridades…”.
Eu tinha certeza de que ele iria levantar da cama e fazer tudo isso.. “E você vai estar comigo”, disse.
Respondi, triste, “Claro… Conte comigo. Você é meu amigo”
Relato do Jornalista Ivo Simon