
A psicanálise também pode ser aplicada para os tenistas com eficiência, garante a associada e tenista, Jaqueline Almaleh Kompinsky, que é psicanalista. Primeira no ranking feminino do Clube; primeira na Copa ALJ 150 anos em simples e terceiro lugar em simples nas Macabiadas de Israel em 2013. Ela joga tênis desde criança, sendo que aos 9 já competia. A longa experiência no esporte, somada à sua formação, lhe garante subsídios suficientes para compreender, à luz da psicanálise, a influência de conflitos não resolvidos, angústias e medos no desempenho dos tenistas. Acompanhe.
Campestre Macabi- Como exatamente a psicanálise pode ajudar um tenista?
Jaqueline – Costumo dizer que quando entra em quadra, o jogador tem duas redes à sua frente, a da quadra e a do seu inconsciente. Por isso, o tenista precisa estar consciente do que realmente significa, para ele, uma vitória ou uma derrota, por exemplo muitas vezes estas vitórias e ou derrotas estão resignando outras situações em sua vida afetiva; ver como lida com a pressão, e conhecer as situações que são capazes de desestabilizá-lo. A psicanálise consegue trazer à tona essas questões e, juntos, psicanalista e tenista, buscarão entendê-las.
Campestre Macabi – As sensações e sentimentos inconscientes, então, podem prejudicar um tenista?
Jaqueline – Estamos constantemente reféns de nosso inconsciente. Quando jogamos, por exemplo, sem perceber, fazemos uma representação de nosso oponente, de acordo com nossas vivencias infantis. E estas vivencias entram em quadra e muitas vezes determinam certos comportamentos, tanto que alguns tenistas cometem sempre os mesmos erros no jogo, independente de quanto treinem ou se preparem.
Campestre Macabi – A estabilidade emocional é tão importante quanto o treino e a habilidade em quadra?
Jaqueline – Sim. Há tenistas que se submetem a treinos exaustivos, são muito bem preparados, mas, na hora do jogo, gelam, ficam paralisados e têm desempenho muito aquém de suas possibilidades. São pessoas que acabam sofrendo no lugar de ter satisfação por estar jogando. Quanto melhor nos conhecemos, mais fácil é enfrentar todas as pressões dentro da quadra, pois atitude é fundamental para garantir um bom jogo.
Campestre Macabi – Os adolescentes têm mais propensão a problemas emocionais relacionados ao esporte?
Jaqueline – Crianças e adolescentes, muitas vezes, sofrem mais por causa dos pais, que sem se darem conta projetam neles seus próprios sonhos , legando-lhes uma responsabilidade grande demais.
Campestre Macabi – Perder é um aprendizado?
Jaqueline – Sim, um aprendizado que deve iniciar na infância. Repetidas derrotas podem mexer com a autoestima das crianças, por isso, pais, técnicos e professores devem preservá-las de situações em que elas não terão nenhuma chance de se saírem bem. A criança pode, inclusive, abandonar o esporte por causa da dificuldade de lidar com a derrota. Se bem trabalhada, a questão pode ser revertida, mostrando à criança que a experiência de competir, de jogar, de ter um grupo é divertida por si só, e que não se consegue ganhar sempre. É preciso lembrar-se, no entanto, que os gestos são mais fortes e marcantes do que as palavras. Não adianta os pais verbalizarem uma coisa e mostrar outra, deixando visível a sua própria frustração e decepção com a derrota do filho.
Jaqueline Almaleh Kompinsky – CRP 07/04001 – Psicóloga e Psicanalista, Especialista em Infância e Adolescência e Formação Psicanalítica, Membro associado da CBT (Confederação Brasileira de Tênis) e da ITF (International Tennis Federation)